terça-feira, 4 de setembro de 2007

História de Lourenço Marques (O INÍCIO)



CAPÍTULO I


Nâo foi somente nas Antilhas que os famosos piratas dos séculos XVII e XVIII deram largas às suas aventuras que ficaram célebres nas páginas da história dos mares.

O Canal de Moçambique, a costa ocidental de Madagáscar e o rosário de ilhas dispersas pelo Índico serviram também de teatro ás suas façanhas.

Por mais estranho que possa parecer, Lourenço Marques tambêm serviu de palco a tão indesejáveis visitantes, verdadeiros “ladrões dos mares”, que tanto se celebrizaram sob chefes ousados e cruéis.

A baía inteira esteve, no segundo quartel do século XVIII, por dois longos e terríveis meses, na posse incontestada de um dos mais célebres corsários da época – o Capitão George Taylor, terror do Canal de Moçambique

“-Desde a subida ao trono de Portugal da Casa de Bragança, a mais estreita amizade com a Inglaterra passou a existir, mas a respeito desse facto, navios Ingleses não cessaram de causar perturbações e ansiedade às autoridades na costa oriental da Àfrica, embora própriamente o governo Inglês de forma alguma pudesse ser tido responsável pelo que tais indivíduos faziam.Alguns navios , eram, sem dúvida, piratas, comandados por corsários semelhantes aos que infestavam as águas das Índias Ocidentais, assaltando e afundando navios.As suas tripulações compunham-se de bandidos de todas as nacionalidades, embora os navios fossem Ingleses pela construção, e Ingleses os nomes de quase todos os seus capitães

A Baía de DELAGOA e a costa de Madagascar ofereciam-lhes abrigo seguro para reparações, abastecimento e mesmo para base de operações, de onde partiam para as suas incursões de pilhagem.

Eric Rosenthal (*2), escreve sobre este assunto“—Há mais de 1900 anos o autor desconhecido do “Périplo do Mar Eritreu”, o mais famoso de todos os roteiros para marinheiros, escreveu que ao longo da costa da África Oriental viviam homens de hábitos de pirataria, de agigantada estatura e subordinados a chefes independentes para cada região. Nos começos do Século XVII os seus descendentes tornaram-se tão irrequietos que forçaram os Portugueses a desistir temporariamente de tentar a ocupação da Baía de DELAGOA

Alfredo Pereira de Lima,(*3) em trabalho conjunto com Colin Coetzee, historiador Sul africano, em 1953, trabalharam nos estudos sobre a localização do celebrado FORTE LAGOA , que os Holandeses construíram por essa época na Baía de Lourenço Marques, no ano de 1721, com o objetivo de tentarem uma fixação.Esta tentativa terminaria em 1730, quando abandonaram o forte. Este malogro serviria mais tarde para confirmar a tese que ingleses e “Boers” defenderiam de que era impossível a fixação européia em Lourenço Marqueas, pois a “Terrível DELAGOA BAY FEVER” a ninguém poupava

O Dr. Alexandre Lobato,(*4) na paráfrase do estudo do Dr.Coetzee, em nossa língua,dá-nos um relato dos acontecimentos ocorridos qundo os Corsários comandados pelo Capitão Taylor acometeram em Lourenço Marques uma série de tropelias:

--Em 11 de abril de 1722 deu-se um acontecimento inesperado.Perseguido por quatro navios ingleses bem armados – Lion, Salisbury, Exeter e Shoreham - , entrou na baía o pirata, também inglês, George Taylor, que tanto dano causara aos navios da Companhia Inglesa das Índias e por isso andava a monte. Dispunha de três barcos, um dos quais Francês, capturado na Ilha de Santa Maria (Madasgáscar) e de 900 homens

Os dois navios principais – Victory e Cassandra – armavam 64 e 36 canhões.era uma força respeitável

Taylor, era um capitão de corsários com uma força respeitável a seu dispor, 14 navios de primeira classe, o mais pequeno dos quais estava artilhado com 30 bocas de fogo, preparados para atacar os navios de qualquer nação.

No dia 18 de abril de 1722,os piratas Ingleses resolvem tomar o rumo do estuário e há troca de tiros entre o forte Holandês e os navios de piratas até ás 5 da tarde. Um pequeno bote da feitoria e o navio estação “De Caap”, são tomados pelos invasores, e no forte um soldado iça a bandeira branca da rendição

Ao que parece os Ingleses souberam que do forte, que Jean Michel comandava, fugira para as terras do régulo Mateky o segundo comandante, Van de Capelle, com 18 homens.

Os Piratas Ingleses exigiram o seu imediato regresso sob pena de arrasarem tudo. Como de facto ele não apareceu, o forte foi completamente destruído e arrasado.

Taylor e seus homens, orgulhosos da vitória fácil, entram então triunfantes em terreno conquistado.Ocupam a baía.Dão largas ao seu entusiamo. Estabelecem relações com os nativos,(Chamados de Cafres) mas cometem o erro muito grave; um erro que lhes foi fatal, e que os portugueses e holandeses procuraram sempre cautelosamente evitar nas suas relações com os nativos. Interferem demasiado com as mulheres negras que acompanham seus homens e confiadamente se haviam aproximado dos piratas!

Viram-se, então , os Holandeses em situação crítica, sem defesa e sem recursos e suportando a insolência dos piratas que se deixaram ficar e iam cometendo as habituais tropelias. Com efeito, os piratas passavam seus dias a embebedar-se largamente e a molestar as mulheres negras.

Coube por isso a vez aos Cafres de se insurgirem, e desencadeou-se uma pequena guerra entre negros e piratas, com mortos de parte a parte. A vida ali era um Inferno!

Dois meses durou isto, porque os piratas ingleses deixaram Lourenço Marques no fim de junho de 1722, depois de terem obtido dos negros grandes quantidades de mantimentos e feitos bom negócio.

Dos holandeses houve 18 que aproveitaram a oportunidade de se livrarem de Lourenço Marques, preferindo acompanhar os piratas.

Este episódio da ocupação de Lourenço Marques pelo Corsário Taylor e seus homens,contribuiu,em grande parte, para o fracasso da ocupação holandesa da Baía de Lourenço Marques.

O ultimo acto dos piratas que haviam feito a vida negra aos ocupantes holandeses foi tomar forçadamente os serviços do cartógrafo Bucquoy, e para o fazerem regressar ao estabelecimento deitaram mão ao “De Caap. Aconteceu porém que levaram definitivamente o navio e o cartógrafo, que não voltaram.

A falta de navios punha os Holandeses na crítica situação de prisioneiros em maus lençóis, porque estavam praticamente desarmados, e não podiam fugir nem pedir socorro. O que os Ingleses, por misericórdia, lhes deixaram foram poucas espingardas, 100 libras-peso de pólvora, 50 cestos de arroz, 5 fardos de roupa e 3 barris de contas.

Os negros depois de verem os Holandeses fraquear diante dos Ingleses, tornaram-se insolentes e ameaçadores, provocando perigo. Por outro lado, as dificuldades insuperáveis punham os próprios holandeses em conflito aos grupos.

O comando perdeu a autoridade,nasceram intrigas, desapareceu a disciplina e faltou a confiança.O Estabelecimento parecia perdido.

Em Dezembro de 1730, os Holandeses abandoraram definitivamente a baía de Lourenço Marques, vencidos pela insalubridade do clima, pela hostilidade dos nativos e pela pobreza do trato comercial que não justificava o pesado sacrifício que vinham realizando desde 1722. Nos vinte e sete anos que se seguiram a este acontecimentonão há noticias de que navios Holandeses tenham tornado á baía que lhes deixara bem tristes recordações.

A ocupação da baía de Lourenço Marques por piratas do Século XVII, que poderia parecer episódio sem grande relevância histórica , é porém, um incidente que merece referência especial

Esse forte Lagoa,foi a primeira fortificação com intuitos de permanência que existiu em Lourenço Marques e se ficou devendo aos Holandeses,então instalados no Cabo.Tinham por objetivo alcançar daqui as minas do Monomotapa.

A Expedição embarcada a bordo dos navios Holandeses,”Gouda” e “Caap”, num total de 113 homens, tinha por chefe Klaas Nieuhof, que morreu pouco depois, de misteriosa doença,sendo sucedido por Willem Van Tack, tendo por subalterno Casparus Swerter

Tendo partido do Cabo a 19 de Fevereiro de 1721, a expedição chegou a Lourenço Marques só cinqüenta dias depois.

Assim que os dois navios lançaram ferro na baía de Espítito Santo que demandaram com muita dificuldade, Van Tack foi procurado pelo chefe Mafumo, que se fazia acompanhar, dizem as crônicas holandesas,por 400 dos seus melhores guerreiros.

O Primeiro encontro entre Holandeses e negros na baía de Lourenço Marques parece ter sido cordial, concorrendo para tanto a boa genebra Holandesa que Van Track distribuiu liberalmente pelos habitantes. Desse encontro sairia naturalmente a autorização que os europeus precisavam para construir o forte.

A um quarto de milha da foz do rio ,numa região infectada pela mlária, os holandeses começaram por erguer uma barraca de campanha onde passaram a noite.Ali construíram o forte.

Logo começariam os problemas de água potável.Para tanto abriram poços junto ao rio. Depois construíram uma cisterna. Mas como a cisterna ficava situada em terreno disputado pelos inimigos do Mafumo, os Holandeses tiveram que lhe montar guarda permanentemente

As dificuldades foram-se avolumando.Era pouca gente para tão grandes tarefas. Havia que limpar o terreno, obter troncos de madeira, guarda-los dos ladrões, montar guarda á cisterna e comerciar com os nativos que não lhes prestavam lá grande assistência. O desgaste físico era demasiado para esses europeus nórdicos.Não dispunham de carne nem de vegetais para sua alimentação, tendo que viver á inclemência de um sol ardente de dia e á doentia humidade durante a noite.

Depois de seis meses da sua chegada a Lourenço Marques, a expedição já se encontrava desfalcada de dois terços do seu efectivo,exterminados pelas febres palustres.

Atribuindo as baixas ao facto de terem de passar as noites em barracas de campanha, resolveram então construir instalações de madeira.

As tábuas vieram do Cabo, mas os barrotes tinham que os ir buscar a mais de seis quilômetros de distância. Finalmente a fortificação em madeira começou a tomar forma.

A Cobertura era uma enorme vela de uma das embarcações que os marinheiros cobriram de camadas de alcatrão para a impermeabilizarem.

A Construção pouco contribuiu porém para o conforto dso homens. O alcatrão do toldo de lona não resistiu aos grandes calores do verão de Lourenço Marques. Aos poucos o alcatrão derretido foi conspurcando a mercadoria dos armazéns.Por outro lado, o calor do interior era verdadeiramente insurportável para a guarnição do pitoresco forte Holandês.

A 31 de maio de 1721 o comandante Van Tack morreu com febres.

Casparus Swerter, o sucede e iludido ainda escreve para o Cabo, que assim que se concluísse o forte, este comandaria a entrada da baía e por tal forma que poderia resistir a qualquer ataque

Com o auxílio recém-chegados, os navios “ Zeelandia” e “Uno”(mais 72 homens e mantimentos),Swreter ampliou o forte , mas não chegou a receber oficialmente a carta patente pois quando a mesma chegou ele já havia morrido com as mesmas febres

A Sucessão coube a Lappenberg, depois a Jean Michel. A Noticia de novo surto de febres malignas que tanto estrago já haviam causado, não fez contudo abalar o ânimo do governador do Cabo.Este recusou-se a mandar mais reforços, alegando que o forte Lagoa já por esta altura deveria ser inexpugnável a ajuizar pelas informações optimistas que tivera de Casparus Swerter

Foi nesta situação que o vieram encobntrar os corsários do Capitão Taylor na manhã de 11 de abril de 1722

No local desmantelado do forte Lagoa, os Austríacos depois construíram o seu forte de S.José, em 1777

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