terça-feira, 4 de setembro de 2007

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.V


Capítulo V

História do Presídio ( 1820 a 1895)

Não foi aliás senão para ver em redor tudo bem, que à mingua dum terraço alto, os primeiros homens do Presídio, os que pela década de 1820, se instalaram numa palhota aqui com uma horta além, vivendo porém do mato, cravaram no chão um mastro e puseram no topo uma gávea, para se ver para dentro do palmar do pântano, pois não havia baluartes onde corre a Avenida da República (1974), e a estacada incompleta estava podre

Havia no areal, fechadas em quintais de caniço, as palhotas dos soldados que viviam com as negras e os moleques, e eram quase todos também negros ou mestiços, as dos funcionários de Goa e dos poucos moradores brancos que viviam do marfim, as dos Mouros e baneanes que eram artífices do estado, ou comissários dos negociantes de Moçambique, e a Feitoria Comercial com suas compridas casas de pedra, meia dúzia de empregados,e o Monopólio.Na barreira em frente ficavam as maxambas e as palhotas dos degredados, plantados agricultores pelo Capitão General Paulo Miguel de Brito em 1829.Era algum decisivo progresso em relação ao tempo em que só havia livres manadas de hipopótamos e o bagançal que em 1777 se fez na praia para se tratarem, ou para morrerem, os doentes dum navio.

A organização social da época, aqui improvisada, era a casa de tipo senhorial dirigida pela caseira, hábil mulher negra ou mulata, e companheira, as Caseiras de Lourenço Marques...Elas foram as esposas cafreais dos brancos ,em que se contavam também os mestiços e canarins, e que se distinguiam os ainda mais brancos, que eram namatangas de Portugal. Só os monhés de caplan,que eram mouros e baneanes, não eram brancos –os brancos da terra - mas tinham também as suas caseiras que se perpetuaram nas negras indianas que existem.

Mapa da região de L.Marques decalcado do mapa original de Owen -1825

Mulatas famosas, descendências mestiças dos fundadores, gente poderosa em Mafumo com família influente em Moçambique, nas veias de algumas havia sangue real de antigas alianças brancas com o mato, e eram por isso a hábil diplomacia mercantil.. Moravam com os maridos e os filhos nas casas do presídio, que eram conjuntos de grandes quintais, pequenas casas maticadas, ou de zinco, servidas por palhotas anexas, que se foram adensando.

Quando em 1874 começaram a chegar a Lourenço Marques as barcas carregadas de aventureiros da Califórnia e da Austrália com destino aos campos do ouro (nome que se dava ao Rand quando ainda não existia Johannesburg), o Presídio encheu-se e povoou-se rapidamente, adquiriu bulício, vida noturna, e começou a esboçar-se a Rua Araújo, para onde se encaminhavam também os Boers que vinham do Transval, em carretas, aos tombos pelo mato afora, passando os rios nos paus, buscar mercadorias

Foi então que o próprio destino se encarregou de substituir a velha urbanização a caniço, por outra mais conforme o progresso, porque um pavoroso incêndio devorou grande parte do Presídio das 3 ás 5 da tarde de 12 de setembro de 1875. Já no ano anterior, à hora da missa ,na ermida de Nossa Senhora, onde hoje é o Standard Bank(1974), e no seu dia, tinham ardido quatro palhotas como um foguete. Mas o fogo de 1875 atingiu proporções devastadoras em poucos minutos, vindo a arder a povoação de norte a sul, entre a atual praça Mac Mahon(1974) e as imediações do atual Savoy(1974).

Cidade vista do começo da Maxaquene, por alturas da actual Escola Correia da Silva (1974) vendo-se o hospital provisório de barracas desmontáveis e a igreja em construção


A linha de defesa, com as portas da cidade, ao fundo do caminhoa futura Avenida Central ( em 1974 Manuel de Arriaga)

Augusto de Castilho, o governador, tomou providências mandando fabricar telhas na Catembe e pedindo ao General , legislação que fizesse remover as palhotas para fora do Presídio, e obrigasse a “substituir por telha, terraço ou ferro zincado , a cobertura de palha das casas de pedra ou de caniço e barro”, que então existiam. O resultado foi a revolução urbanística, precisamente quando o Presídio foi promovido a Vila e se fizeram no último quartel do século XIX, as casas modernas cujos restos encontramos.

Vistas parciais de Lourenço Marques á data da mudança urbanística que sofreu após o grande incêncio

A larga avenida da República, que foi avenida D.Carlos, corre na antiga Rua da Linha, caminho por dentro do muro tosco, abaluartado que nascia na praia do rio, tinha o primeiro baluarte redondo da Praça Mac Mahon, onde assenta o monumento aos mortos da Grande guerra, flectia para leste,do começo da General Machado, até á esquina da Rua Salazar,em diagonal, tendo ao meio do quarteirão o Baluarte de S.Pedro, e na Av República (1974), á esquina da Salazar, o de Santo António.

As antigas portas da cidade, da porta da linha A planta de L.Marques em 1878

Mais adiante, na Avenida Central, entre o velho quiosque Olímpia e o Prédio Avenida, abria-se a porta da Linha, entrada e saída do povo pelo caminho de areia que levava á antiga Estrada do Lindenburgo. Da Central á Aguiar,que era em 1974 a D.Luís, a linha de defesa seguia paralela ás frontarias atuais, para se arredondar no Baluarte de S.João, que ficava todo na Av.da Républica, com a ponta sobre a esquina do prédio Pott. Uns metros adiante, onde hoje é o Café Scala, abria-se outra saída na linha, que prosseguia para flectir, a seguir á antiga Fazenda, (hoje Biblioteca Nacional e Arquivo Histórico) para os terrenos do Almoxarifado, onde ficava o Baluarte do 14, junto à praia do Albasini. Era aí que a Linha acabava, entre o Almoxarifado e a Capitania, para dentro do Presídio, para fora o extra-muros no pântano da Baixa.

Planta e alçado linha da defesa construída em 1867 (fotografia do original no Agrupamernto de Cartografia da Junta de Investigações do Ultramar)

Não se sabe ao certo quando começou a haver em Lourenço Marques uma Linha de Defesa exterior, por esta Avenida da Républica, feitas com estacas de mangal, espetadas na orla da povoação, caídas porém aqui e acolá, cobrindo apenas os acessos mais vulneráveis. Em 1836, o Governador Militar de Moçambique, manda “cuidar da estacada”, reparar o baluarte arruinado, consertar a fonte. No ano seguinte, a Junta Governativa de Moçambique fica ciente das obras da fortaleza.

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