terça-feira, 4 de setembro de 2007

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.VI

Capítulo VI

Viagem pela história na Fortaleza de N.Senhora Padroeira

A Fortaleza Nova feita com dois baluartes, e a porta pequena, feita de pedra vermelha, ainda comporta os canhões e o paredão que segundo a lenda, nesta árvore foi morto o Gov.Dionísio Ribeiro, em 1883.

Em diagonal à velha Casa Amarela é a Fortaleza Nova do Presídio, reconstruída em 1940 sobre o alicerce da primitiva. Que aliás nunca existiu, capaz e completa em qualquer tempo.Entra-se, e é um pequeno museu de sugestivas antiguidades históricas.Artilharia velha na parada, armas e peças no quartel da entrada á direita, epígrafos e pedras de armas arrancadas ás fortalezas do Norte e postas nas paredes do quartel da esquerda, com restos dum arco e pilastras de Sofala (1506), relíquias de arte sacra noutra ala em que se guarda a primitiva imagem de Nossa Senhora da capela do Presídio ( que data de 1819), retratos, bustos, espadas e recordações de grandes figuras históricas noutra sala e na caserna em frente os restos da vida quotidiana de outros tempos.

(1)Restos arqueológicos de Sofala e inscrições arrancadas ás fortalezas do norte,(2) Armas e munições de várias épocas, (3) Retratos de Reis,Bustos de galeria de Moçambique, espadas e condecorações de heróis,cofres das feitorias e a cadeirinha do capitão general do Palácio da Cabeceira Grande

Fora plantas, desenhos e fotografias de sítios e coisas antigas.Conjunto eloquênte, acima de tudo simbólico, a principiar na Fortaleza reconstruída no alicerce primitivo, com imaginação e estilo, e poderosamente sugestiva. A falta mais sensível será,além de não ser verdadeira, não ter agora o flanco sul metido ao rio, com água pelo rodapé da muralha enterrada funda na praia, mas isso é culpa antiga dos aterros do começo do século XX e das grandes obras que já haviam modificado e acrescentado a Fortaleza para a fazer Quartel de Caçadores, e depois Capitania dos Portos, com casas à frente e alcândoradas nos baluartes e nas cortinas. Qualquer semelhança que possa haver entre a fortaleza atual, bonita como um brinquedo, e a realidade histórica, é, pois, pura imaginação.Durantes décadas seguidas o problema máximo da terra foi sempre acabar-se a fortaleza, isto é, transformarem-se em alvenarias as barracas, as palhotas e a estacada, fazer-se ao menos de pedra vermelha barrada a cal, em amarelo ou branco, o segundo baluarte, com pequenas ameias abertas no murinho estreito.

(1) Móveis e adornos antigos,Bandeiras nacionais, um velho riquexó,figurinos militares,primitivas metralhadoras rodadas,(2) A primitiva imagem de N.S.da Conceição e(3) Vista da parada com a artilharia montada

Sede de todos os embrionários serviços públicos da povoação, a fortaleza velha, á medida que perdeu o valor militar por ter passado a defesa para a orla do Presídio, foi-se rodeando de “acrescentos” encostados ás muralhas aproveitadas para paredes, e, transformadas as casernas em quartos com alpendres, ninhadas de crianças a brincar pela extinta parada, arames de roupa estendida ao sol em toda a parte, parecia a irreconhecível fortaleza uma típica Ilha do Porto, a quem nem sequer faltava o ambiente castiço dos marítimos da capitania a gozar a folga, exibindo-se nas preguiçosas cadeiras de lona em calças velhas e camisola interior.A restituição foi ao menos um ato de justiça elementar, com as conjecturas possíveis

(1) O novo Baluarte da Bandeira,(2) Obras de aterro em frente á Fortaleza em 1922 ,(3) ACapitania do Porto na antiga secretaria do quartel do Batalhão de caçadores que foi construida á frente e ao lado da fortaleza primitiva, onde se vê o mastro de gávea e o balão que acionava o tiro de peça á 1 hora da tarde

Aliás, até o fim do século XIX, a engenharia foi sempre, em Lourenço Marques, obra improvisada de amadores.

Joaquim de Araújo, o “Fundador”, que no dia de S.José de 1782 inaugurou o Presídio, arvorou a bandeira das Armas reais num reduto cercado de estacas e caniço, dentro do qual eram as palhotas e barracas de capim do destacamento.Incêndios e diversas lutas marcam este ponto de Lourenço Marques, que no Diário de bordo do navio Austríaco” Residente Pollet” ancorado em 1778 descrevia como “.. Um lugar muito impróprio e incapaz: no princípio do mês de Outubro principiou a deitar um cheiro de vapor de mortos tão terrível que receávamos meter os nossos narizes fora das portas.....”.

(1) Ainda como Capitania dos Portos, mas já com o mastro trocado,sem o balão,(2) Fortaleza muro de 140cm de espessura e (3) Posto Meteorológico montado em espeques na parada da fortaleza, que antecedeu ao Observatório Campos Rodrigues,criado em 1908

Mas os portugueses ficaram, embora fossem morrendo, uns atrás dos outros, governadores, oficiais e soldados.Adaptava-se cada um como podia com os velhos instintos da “Lusotropicalidade”. A verdade é que a “Feitoria da Sociedade dos negociantes da Baía de Lourenço Marques”crescia em DELAGOA – designação internacional que a terra tinha.E foi assim que a cidade principiou, com dezesseis pessoas apenas.Construiu-se o Armazém Real,com a cal conduzida, provavelmente, da barreira de conchas que existe na margem do Rio Matola..Eram negros, além do pedreiro, o carpinteiro que fez as portas assim como o ferreiro de Inhambane que fabricou as ferragens,e o calafate que consertava a lancha do Estado.

A iluminação dos quartéis era com azeite de baleia, fabricado nas praias da baía pelos baleeiros Ingleses e Americanos.Quem tratava dos doentes era um curandeiro Landim, que, por cada soldado que curava recebia de pagamento uma capulana. De vez em quando entrava um navio estrangeiro que trocava qualquer coisa por marfim, pois o barco de viagem só chegava de ano a ano, e ás vezes naufragava.

Assim ia a vida em Lourenço Marques no começo do século XIX, ao principiar o estabelecimento miserável que é hoje a cidade encantadora, fascinante e requintada.

(1) A doca da fortaleza em obras de aterro, vê-se a muralha de pedra vermelha ligada a cal,(2) já em 1893 a ponte de passageiros ainda se gradeando e(3) A Capitania Buildings construida sobre o aterro da Fortaleza.Posteriormente o aterro foi alinhado para se fazer a rua Tavares de Almeida com um passeio .

A fortaleza Nova, é portanto o monumento que se devia ao passado humilde, obscuro e miserável da cidade, e aos mortos que o sofreram

Depois da retirada definitiva dos portugueses de terras de Moçambique, 1975, a fortaleza ainda ssim tem o seu papel preponderante, pois todos os monumentos espalhados pela cidade, foram colocados dentro da mesma, preservando assim a história deste local. Vários objetos alem das estátuas pertencentes a Portugueses também aqui foram perpectuados,não sei se já pelas mãos da Frelimo, ou se ainda pelos portugueses na fase de transição.Tenha sido pela mão de quem seja, só tenho a agradecer por este ato .Em 1995 estive no interior da fortaleza, e pude verificar o excelente estado de conservação e fotografar todas as Estátuas dos Heróis Portugueses que estavam espalhados pela cidade O brasão da Família Mesquitela ,que estava na parede externa da residência que o Presidente Samora nacionalizou e lá viveu até a sua morte,na Matola, dizem estar na Fortaleza, mas como somente não tive acesso a duas das demais dependências da Fortaleza ,não pude confirmar este fato.Tentei de tudo com a pessoa que me permitiu entrar na fortaleza, adentrar nestas duas dependências e por respeito não forcei a entrada. As mesmas se encontravam lacradas com dois cadeados de Aço, enormes, o que me leva a pensar no que lá estaria. Espero ,entretanto, que lá esteja o brasão, pela obra de arte que é.

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