terça-feira, 4 de setembro de 2007

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.III


Capítulo III

HABITAÇÃO–FORTIFICADA DE LUIS JOSÈ

A fortificação dos Austríacos, como se viu no capítulo anterior ,manteve-se até á chegada da expedição vinda de Goa em Março de 1781, sob o comando do tenente-coronel Joaquim Godinho de Mira, embarcada na fragata “Sant’Anna”, para restabelecimento da soberania Portuguesa na baía de Lourenço Marques

Essa fortificação Austríaca que existiu outrora na baía de Lourenço Marques foi então totalmente arrasada pela expedição de Godinho de Mira

Em relatório que o chefe da Expedição enviou para o Governador da Ìndia, D.Frederico Guilherme de Sousa, lê-se

“... em 30 do mesmo ( Março) entrei no rio do espírito Santo, tendo com muito trabalho de sonda passado felizmente por entre os muitos baixos de que a Bahia de Lourenço Marques é cheia. Dentro daquele rio estavam ancoradas três embarcações de gavia: uma com bandeira Portuguesa e passaporte passado pelo governador de Damão,José de oliveira Leitão, outra com bandeira Ingleza, cujos proprietários da primeira são de Surrate, e Bombaim os da segunda, finalmente a terceira embarcação que era uma palla de mastro e meio, tinha bandeira Imperial, pertencente à companhia de Trieste:; entre esta e uma bateria de treze peças que estava em terra com a mesma bandeira Imperial, fui ancorar.Apenas surto dispuz a minha tropa para executar as determinações de V. Exa., participadas na minha instrução, e mandando parte d’ella com os seus competentes oficiais tomar posse da palla Imperial que estava ancorada, prevenida para qualquer resistência que se lhe fizesse, e com ordem de não fazer a menor hostilidade,isto mesmo foi executado, e a palla entrada sem a menor resistência, nem offensa; deixei ficar a seu bordo para a comandar o capitão tenente Francisco Lobo da Gama com uma competente guarnição, e eu com alguma tropa me encaminhei para a bateria de terra (o campo entrincheirado de S. José), que netrei sem resistência, mandei logo arrear a bandeira Imperial, e no dia seguinte 1 de abril pela manhã içar a bandeira portuguesa salvando-a com vinte e um tiros de peça; a esta salva respondeu a fragata com o mesmo número; immediatamente mandei tocar a fachina, desmontar e conduzir a artilharia para bordo da fragata, demolir a bateria, mandando logo os dois tenentes do mar Cândido José Mourão Garcez Palha e Christovão da Costa Athaide, a bordo das outras duas embarcações que ali se achavam

Foi, depois, sob as ruínas dessa desmantelada fortificação Austríaca que Joaquim de Araújo, primeiro governador que teve Lourenço Marques, fez erguer o presídio de Lourenço Marques, que foi o berço da nossa cidade

O final do século XVIII, convulsionado pela revolução Francesa – o maior acontecimento da História Moderna, que com ela finda – também foi muito agitado para Lourenço Marques com reflexo do que se processava na Europa

Vendo-nos abandonados pela Espanha – com a maior ingratidão – e pela Inglaterra – que nos utilizara apenas em benefício exclusivo dos seus interesses – os corsários Franceses sentiram-se com ânimo, seguros de impunidade, para incomodar o que nos restava do comércio com o Ultramar

Foi assim que na manhã trágica de 26 de outubro de 1796, corsários franceses que infestavam o canal de Moçambique, embarcados em três navios bem artilhados, forçaram, sem dificuldades, a barra da inhaca e investiram contra o frágil presídio que encontraram na margem esquerda do rio do espírito Santo como afirmação de presença de Portugal neste canto de África, desde os tempos de Joaquim de Araújo

O frágil reduto (o forte tinha o feitio de um quadrado e era protegido por um fosso), cuja defesa encontrava-se a cargo do governador João da Costa Soares, foi atacado, saqueado e destruído. Como era de madeira, ardeu em poucas horas. A sua diminuta guarnição abandonara-o à mercê da sorte, refugiando-se no “mato”, ainda tentando alguns alcançar, por terra, a vila de Inhambane

Desapareceu, deste modo, em escassas horas o que levara tanto tempo a erguer á custa de penosos sacrifícios iniciados por Joaquim de Araújo, seu primeiro governador, que dando cumprimento ás ordenações de El-Rei D.José lançara os fundamentos do presídio , em 1782, e pelo qual não fora menor o sacrifício de vidas do governador Costa Portugal, de sua mulher D.Ana, e de um filho de tenra idade, vítimas da insalubridade do clima .

Nova expedição se preparou para reocupar militarmente Lourenço Marques,tendo a frente de um pequeno destacamento, o tenente-ajudante Luis José que parte da ilha de Moçambique a bordo da pala “MINERVA”. Chegam a Lourenço Marques a 7 de junho de 1799.

O historiador Alexandre Lobato encontrou nos papéis avulsos do Arquivo Histórico Ultramarino (*1) a composição desse pequeno destacamento incumbido de tão importante empresa.assim sabe-se que além do Chefe ( o tenente –ajudante ) havia 1 porta-bandeira,1 tambor, 6 soldados de infantaria, 5 de artilharia e 4 negros captivos que eram oficiais mecânicos

A este punhado de Portugueses coube restaurar na baía de Lourenço marques, no dealbar do do convulso século XVIII, a soberania Portuguesa lá totalmente aniquilada por corsários Franceses.

Luís José instala-se, primeiro, “na terra do Capella , defronte do antigo presídio, por o régulo da Matola não ter querido atend~e-lo imediatamente. Ali se conservou até cerca de 1805, altura em que com relativa segurança pôde “passar para o outro lado, que havia sido ocupado anteriormente pelos Holandeses e pelos Austríacos (*2)

Já nesta margem, onde a fortaleza hoje se ergue, construiu uma “pequena habitação fortificada para quartel de tropa e feitoria, onde se arvorasse a bandeira portuguesa, como sinal de posse do terreno, e sem intenção de fazer resistência a qualquer inimigo

O Governador e o Capitão-general de Moçambique, justificando a fraqueza dessa instalação diz que a obra assim se fez “ por falta de recursos da província (*3 )

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