terça-feira, 4 de setembro de 2007

Presidentes de Moçambique (Presente)

Armando Guebuza
Bandeira angolana

Presidente da República de Moçambique

Período de governo: 2 de Fevereiro de 2005-actualidade
Predecessor Joaquim Chissano
Sucessor -
Data de Nascimento 20 de Janeiro de 1943
Local de Nascimento Murrupula, Moçambique
Profissão
Partido Político FRELIMO

Armando Emílio Guebuza (Murrupula, Nampula, 20 de Janeiro de 1943) é um político moçambicano, atual presidente de seu país.

Junta-se à FRELIMO em 1963, na então Lourenço Marques e abandona Moçambique em 1964 para estudar numa escola especial na Ucrânia, base de Perevalny. No Governo de Transição (1974-1975), Guebuza ocupa a pasta da Administração Interna, e no primeiro Governo do Moçambique independente a pasta de Ministro do Interior. Ocupou então vários importantes postos governamentais e em 1992 é nomeado chefe da delegação do governo na Comissão de Supervisão e Implementação do Acordo Geral de Paz para Moçambique.

Em 2002 é eleito secretário-geral da FRELIMO, cargo que o torna candidato do partido às eleições presidenciais de 2004, que vence. Em 2 de Fevereiro de 2005 Armando Guebuza torna-se o terceiro Presidente da República de Moçambique.



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Presidentes de Moçambique (segundo)

Joaquim Chissano
Bandeira angolana

Presidente da República de Moçambique

Pres. Joaquim Alberto Chissano. Por Marcello Casal/ABr.
Período de governo: 1986 - 2005
Predecessor Samora Machel
Sucessor Armando Guebuza
Data de Nascimento 22 de Outubro de 1939
Local de Nascimento Chibuto, Moçambique
Profissão
Partido Político FRELIMO






Joaquim Alberto Chissano (Malehice, Chibuto, Gaza, 22 de Outubro de 1939)) é um político de Moçambique

Em 1951, foi o primeiro negro a matricular-se no Liceu Salazar (actual Escola Secundária Josina Machel), onde fez os seus estudos secundários. Em 1960 partiu para Portugal para cursar medicina, mas abandonou este país em 1961 devido a perseguição da Policia Secreta Portuguesa (PIDE). Juntou-se à Frelimo em 1963 na sequência da sua associação com a causa nacionalista. Em 1974, com apenas 35 anos de idade, Joaquim Chissano torna-se primeiro-ministro do Governo de Transição e depois da proclamação da independência é nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros. Com a morte trágica do Presidente Samora Machel, em 1986, Joaquim Chissano é eleito Presidente da República Popular de Moçambique, cargo que manteria até 2005.

Presidentes de Moçambique (primeiro)



Samora Moisés Machel (Madragoa, Gaza, 29 de Setembro de 1933 — Mbuzini, África do Sul 19 de Outubro de 1986) foi o primeiro presidente de Moçambique, ocupando o lugar entre 1975 e 1986. Morreu quando o avião em que regressava a Maputo se despenhou em território sul-africano. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.


Juventude

Filho de um agricultor relativamente abastado, Mandande Moisés Machel, da aldeia de Madragoa (actualmente Chilembene), Samora entrou na escola primária com 9 anos, quando o governo colonial português entregou a “educação indígena” à Igreja Católica. Quando terminou a escola primária, o jovem de cerca de 18 anos quis continuar a estudar, mas os padres só lhe permitiam estudar teologia e Samora decidiu ir tentar a vida em Lourenço Marques. Teve a sorte de encontrar trabalho no principal hospital daquela cidade e, em 1952 começou o curso de enfermagem. Em 1956, foi colocado como enfermeiro na ilha da Inhaca, em frente da cidade de Maputo, onde casou com Sorita Tchaicomo, de quem teve quatro filhos, Joscelina, Edelson, Olívia e Ntewane.

Neto de um guerreiro de Gungunhana, Samora Machel foi educado como nacionalista e, como estudante, foi sempre um “rebelde” e tomou conhecimento dos importantes acontecimentos que se davam no mundo: a formação da República Popular da China, com Mao Tse-Tung, em 1949 a independência do Gana, com Kwame Nkrumah, em 1957, seguida pela de vários outros países africanos. Mas foi o seu encontro com Eduardo Mondlane de visita a Moçambique, em 1961, que nessa altura trabalhava no Departamento de Curadoria da ONU, como investigador dos acontecimentos que levavam à independência dos países africanos, que juntamente com a perseguição política de que estava a ser alvo, levou à decisão de Samora de abandonar o país, em 1963 e juntar-se à FRELIMO, na Tanzania. Para lá chegar, teve a sorte de, no Botswana, encontrar Joe Slovo (que, mais tarde, foi Presidente do Partido Comunista Sul-Africano) com um grupo de membros do ANC sul-africano, que ofereceu “boleia” (“carona”) a Samora num avião que tinham fretado.

Na FRELIMO

Dado que nessa altura, já a FRELIMO tinha chegado à conclusão que não seria possível conseguir a independência de Moçambique sem uma guerra de libertação, o jovem enfermeiro Samora Machel foi integrado num grupo de recrutas receber treino militar na Argélia. No seu regresso à Tanzania, ele tornou-se imediatamente num comandante. Em Novembro de 1966, na sequência do assassinato do então Chefe do Departamento de Defesa e Segurança da Frelimo (o órgão que comandava a luta armada), Filipe Samuel Magaia, Samora foi nomeado chefe do novo Departamento de Defesa, com as mesmas funções do anterior, enquanto Joaquim Chissano foi nomeado chefe do Departamento de Segurança, tratando dos problemas de espionagem que estavam a minar aquele movimento de libertação.

Em 1967, Samora Machel criou o Destacamento Feminino (DF) para envolver as mulheres moçambicanas na luta de libertação e, em 1969 casou-se oficialmente com Josina Muthemba, uma guerrilheira (com ensino secundário) do DF, de quem teve um filho, Samora Machel Jr. Em 1968, foi reaberta a “Frente de Tete”, que foi a forma como Samora respondeu a dissidências que se verificaram dentro do movimento, reforçando a moral dos guerrilheiros.

Em 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane, então Presidente da FRELIMO, foi assassinado com uma encomenda-bomba. Uria Simango, o Vice-Presidente, assumiu a presidência, mas o Comité Central, reunido em Abril, decidiu rodeá-lo de duas figuras – Machel e Marcelino dos Santos -, formando um triunvirato. Simango, em Novembro desse ano, publicou um documento dando apoio aos antigos dissidentes (que não tinham sido ainda afastados do movimento) e acusando Samora e vários outros dirigentes de conspirarem para o matar. Em Maio de 1970, noutra sessão do Comité Central, Simango foi expulso do movimento e Samora Machel foi eleito Presidente da FRELIMO, com Marcelino como Vice-Presidente.Segundo certos investigadores da actualidade, Samora Machel não foi eleito como Presidente da FRELIMO após a morte de Mondlane, mas sim ele ascendeu ao poder por circunstância da então situação que o movimento passava. Como corolário disto é a violação dos estatutos do movimento ao não aceitar que Uria Simango fosse Presidente do movimento após a morte de Eduardo Mondlane em 1969.

Preparativos para a Independência de Moçambique

Nos anos seguintes, até 1974, Samora conseguiu organizar a guerrilha de forma, não só a neutralizar a ofensiva militar portuguesa, comandada pelo General Kaúlza de Arriaga, um homem de grande visão militar, a quem foi dado um enorme exército de 70 000 homens e mais de 15000 toneladas de bombas, mas também organizar as Zonas Libertadas, que abrangiam cerca de 30% do território. Para além disso, Samora dirigiu uma ofensiva diplomática, em que grangeou apoios, não só dos tradicionais aliados socialistas, mas inclusivamente do Papa, que era um tradicional aliado de Portugal.

A seguir ao golpe-de-estado militar de 25 de Abril de 1974, em Portugal (a "Revolução dos Cravos"), que tinha tido como causa imediata a incapacidade de resolver a questão colonial pela for?a das armas, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Mário Soares, encabeçou uma delegação a Lusaka, em que propôs à FRELIMO um cessar-fogo e a realização dum referendo para decidir se os moçambicanos (certamente, incluindo os seus habitantes de origem portuguesa) queriam a independência. Samora recusou, afirmando que "A Paz é inseparável da independência" e expandiu as operações militares, contando com a fraqueza do exército colonial. Em Julho, cercou um destacamento português que se rendeu; este facto, muito propagandeado pela imprensa, levou Lisboa a mudar de atitude e, em 7 de Setembro de 1974, foram assinados os Acordos de Lusaka entre o governo português (cuja delegação era então dirigida por Melo Antunes, Ministro sem Pasta), em que se decidiu que no mesmo mês se formaria um governo de transição, integrando elementos nomeados por Portugal e pela FRELIMO, e que a independência teria lugar a 25 de Junho de 1975.

A FRELIMO decidiu que o Primeiro Ministro do governo de transição não devia ser Samora, mas Chissano, ainda chefe do Departamento de Segurança. Entretanto, Samora fez várias viagens aos países socialistas e a países vizinhos de Moçambique, para agradecer o seu apoio durante a luta armada e solicitar apoio para a construção do Moçambique independente. Durante uma sessão do Comité Central, realizada na praia do Tofo (Inhambane) e dirigida por Samora, foi aprovada a Constituição da República Popular de Moçambique e decidido que Samora Machel seria o Presidente da República.

A Presidência de Samora Machel

No plano interno, Samora sempre assumiu uma política populista, tentando utilizar nos meios urbanos os métodos usados na guerrilha e angariar o apoio do povo para o desenvolvimento do país em bases socialistas. Menos de um mês depois da independência, Samora anunciou a nacionalização da saúde, educação e justiça; passado um ano, a nacionalização das casas de rendimento, criando a APIE (Administração do Parque Imobiliário do Estado), que alugava as casas com rendas que estavam de acordo com o rendimento do agregado familiar; lançou grandes programas de socialização do campo, com o apoio dos países socialistas, envolvendo-se pessoalmente numa campanha de colheita do arroz. Conseguiu ainda o apoio popular, principalmente dos jovens, para operações de grande vulto, tais como o recenseamento da população, em 1980, e a troca da moeda colonial pela nova moeda, o Metical, no mesmo ano. Outras políticas populares foram as “ofensivas” a favor do aumento da produtividade e contra a corrupção, geralmente anunciadas em grandes comícios, com grande participação da população.

No entanto, poucas destas campanhas tiveram êxito e, em parte, levaram ao abandono do país de grande número de residentes de origem estrangeira, o que provocou a paralização temporária de muitas empresas e, mais tarde, por falta de capacidade de gestão, ao colapso de muitos sectores, tais como a indústria têxtil, metalúrgica e química. Outras medidas impopulares foram o encarceramento em “campos de reeducação” das Testemunhas de Jeová, dos “improdutivos” e das prostitutas e a colocação em locais remotos de jovens com cursos superiores; estas medidas tinham como alegado objectivo o desenvolvimento de regiões onde havia pouca população.

Na frente externa, Samora sempre seguiu uma política de angariar amizades e apoio para Moçambique, não só entre os “amigos” tradicionais, os países do “bloco soviético” e unindo os países vizinhos numa frente de integração regional, a SADCC, mas até entre os seus “inimigos”, tendo sido inclusivamente sido recebido (embora com frieza) por Ronald Reagan e assinado um acordo de boa-vizinhança com Pieter Botha, o presidente da África do Sul dos últimos anos do apartheid (o Acordo de Nkomati). Apesar disso, Samora não conseguiu suster a guerra que, iniciada logo a seguir à independência pelos vizinhos regimes racistas (a África do Sul e a Rodésia de Ian Smith, se tornou numa verdadeira guerra civil que durou 16 anos, provocou cerca de um milhão de mortos e cinco mlhões de deslocados e destruiu grande parte das infraestruturas do país.

O insucesso da sua política de socialização e a guerra levaram a um colapso económico e Samora, nos últimos anos, teve de abrandar a sua política de índole comunista, permitindo que os “quadros” tivessem acesso a bens que o comum dos cidadãos não tinham, encetando conversações com a RENAMO e, finalmente, organizando acordos com o Banco Mundial e FMI, no sentido de estancar a guerra e relançar a economia. Não conseguiu, no entanto, ver realizados os seus propósitos, uma vez que, em 19 de Outubro de 1986, quando se encontrava de regresso duma reunião internacional em Lusaka, o Tupolev 134 em que seguia, junto com muitos dos seus colaboradores, se despenhou em Mbuzini, nos montes Libombos, em território sul-africano, mas perto da fronteira com Moçambique. O acidente foi atribuído a erros do piloto russo, mas ficou provado que este tinha seguido um radio-farol, cuja origem não foi determinada; isto levou a especulação sobre a possível cumplicidade do governo sul-africano, mas nunca se conseguiu provar.

A viúva de Samora, Graça Machel, com quem se tinha casado em 1977, quando Graça Simbine (de seu nome de solteira) era Ministra da Educação, casou em 1998 com Nelson Mandela.

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.VII


Capítulo VII

Estações do Caminho de Ferro de Lourenço Marques

A primeira Estação do Caminho de Ferro

O caminho de ferro de Lourenço Marques era uma esperança que os colonos afagavam de longe sem acreditarem na sua realização.Um horizonte de emancipação comercial para o transvaal.Uma tentativa desastrada, segundo a opinião dos políticos.Este caminho de ferro consistia, evidentemente, de dois troços: Um de Lourenço Marques á fronteira dos Libombos e a outra da fronteira portuguesa a Pretória.

Em 6 de novembro de 1874, o Visconde de Duprat assinou em Londres um contrato, em nome do Governo Português, com George Pigot Moodie. O governo aprovou o contrato a 18 de Novembro.

Esperava o Sr. Moodie levantar capital necessário para a empresa, não só na Inglaterra, mas ainda em outros países, inclusivamente Portugal.. Não conseguindo o seu intento, acabou por vender a concessão ao próprio Transvaal por 15.000 Libras.. E assim se fundou, com sede em pretória, THE LIMBOMBO RAILWAY COMPANY.

De regresso á África,, pois havia percorrido a Europa ( Londres, Holanda e Portugal), encarregou o Eng. Richard Thomas Hall de estudar, em Lourenço Marques, o traçado provisório. Os estudos realizaram-se, com efeito, de Agosto a Dezembro de 1876.

Após a anexação do transvaal pela Coroa Inglesa, em 1877, a questão entrou em compasso de espera. Os Ingleses não se desinteressavam dela, pois, na hipótese de ficarem de vez no Transvaal, interessar-lhes-ia escoar os seus produtos pelo porto mais vizinho,que era Lourenço Marques.

Ao retomar a sua independência em 1881, o transvaal insistiu novamente no caminho de ferro.O Governo português, por seu lado, enviou a Lourenço Marques o major de Engenharia Joaquim José Machado, a fim de estudar o traçado até aos Limbombos.

Terminados esses estudos, entra em ação o americano Edward MacMurdo a oferecer-se pra formar uma companhia, com o encargo de construir a linha em território Português. O contrato, depois de autorizado, foi assinado em Londres em 14 de Dezembro de 1883.O Transvaal, perante esta esperança, confiou a um sindicato de financeiros alemães a construção de sua linha. A notícia,cedo espalhada por toda a parte, produziu o melhor resultado,Parecia ter-se entrado pelo caminho das realizações úteis.

MacMurdo porém,logo mostrou que não era sua inteção construir caminho de ferro algum: desejava negociar a concessão, ou então, aproveitar-se do interesse que o Governo manifestava.O empreiteiro comprometeu-se a formar uma companhia Portuguesa, subordinada ás leis Portuguesas, porém deu tantas voltas que tal Companhia acabou em mãos Britânicas, sobre orientação de Londres, o que desagradou tanto aos Transvalianos ( como se chamavam na época os Sul-Africanos) que pretendiam que essa linha de Pretória a Lourenço Marques – tão vital para o seu País- ficasse fora de quaisquer influências Inglesas.Essa Companhia chamava-se DELAGOA BAY AND EAST AFRICAN RAILWAY CO.

MacMurdo comprometeu-se a enviar a Lourenço Marques, no prazo de quarenta dias da data da assinatura do contrato, um engenheiro para proceder ao exame do traçado já estudado pelo Eng.Joaquim José Machado e propor as variantes que tivesse por conveniente ou necessárias.Em Janeiro de 1884, chegou efetivamente o Eng. Alprovidge, munido das cópias do projeto que lhe haviam dado em Lisboa. Teve liberdade total para observar o que preciso fosse , mas ao final do prazo pediu um prorrogação de prazo, que lhe foi concedido. Novamente pede uma extensão de prazo ao término do primeiro e ao final deste segundo acaba por aceitar o projeto original português.

A 3 de Março de 1885, por decreto, o governo português, não só aceitou novos pedidos, não só lhe atendeu á diminuição das verbas destinadas à construção, como aumentou a verba de material circulante, como ainda lhe autorizou a adoção nas imediações de Lourenço Marques de um traçado diferente para evitar expropriações dispendiosas.

Em início de 1886, em compasso de espera ainda, quando a companhia concessionária pretendeu modificar os seus estatutos no sentido de facilitar a emissão das suas obrigações e de ampliar os poderes da sua direção em Londres, o Governo Português atendeu ainda a esta pretensão.

A 12 de Março de 1886, o governo Português, através de decreto,insistiu em que a Companhia informasse com urgência sobre a data provável em que devia realizar-se a partida para Lourenço Marques do pessoal e materiais destinados às obras de construção da linha férrea.

A 18 de Maio, quando finalmente a companhia respondeu, alegava que não tinha ela conseguido fazer a emissão de obrigações, lhe era impossível dar começo á construção da linha férrea, e “nem mesmo estava habilitada a iniciar esses trabalhos”, mas que “ se ao governo conviesse encetar as obras obras do caminho de ferro, a direção da empresa não se oporia a isso, e antes se comprometia a aceitar, pelo preço que se convencionasse, ás obras que estivessem feitas”.

Já estávamos a 17 de Março de 1887 e o caminho de ferro já devia ter sido concluído em 1886

De fato a nova companhia enviou algum material para Lourenço Marques, prometendo o envio regular de mais ainda. Assim, o governo português, com o propósito de atenuar o desânimo que já lavrava no Governo do Transvaal, com tantas protelações, resolveu iniciar por conta própria a construção da linha férrea de Lourenço Marques, sob a direção do major António José de Araújo.

Em 2 de Julho de 1887 inaugurou-se, no meio de grande entusiamo, a primeira locomotiva, a que se deu o nome de “príncipe Luís Filipe” Em Setembro, chegou a Lourenço Marques, o diretor da exploração,Philip Knee, que afixou imediatamente as tarifas, que eram tão elevadas que o transporte dum cavalo, por 80 Km, custava o terço de seu valor.

Faltavam ainda 9 Km para se atingir o termo da linha, todavia, os mais difíceis, pois deviam ser assentes sobre rochas.

de via dos primeiros dez quilômetros, que se deu início à construção da primitiva “gare”estação central do caminho de ferro de Lourenço Marques,em madeira e ferro zincado, na Av. 18 de Maio, em terreno hoje abrandido pelo muro de vedação, entre a porta 5 e a casa de Bagagens. Ao lado ficava a “Kiosk Railways”, onde se fazia horas para tomar o comboio.

As Obras prosseguem normalmente por conta do Estado, ultrapassando já o vale do Infulene, quando a 1 de Março de 1887, numa assembléia geral convocada por Mac Murdo em Londres, a companhia deu-se por habilitada em tomar conta dos trabalhos de construção do caminho de ferro a que se comprometera, talvez percebendo que os Portugueses tinham também a capacidade de executar o projeto.Satisfazendo assim os desejos da companhia, prontamente se entrou em acerto de contas e a empresa tomou a seu exclusivo cargo as responsabilidades da construção.

Continuaram a partir daí os trabalhos por conta da companhia, que contudo requereu novos adiamentos que, aliás lhe foram concedidos,e ainda se lhes permitiu que se abrissem à exploração os primeiros 80 Km da via, mas com a “ expressa declaração, feita á companhia, de que tal autorização não prejudicava, nem a obrigação da empresa de continuar a linha até á fronteira e de terminar todas as obras prescritas no contrato de 1883.

Faltavam ainda 9 Km para se atingir o termo da linha, todavia, os mais difíceis, pois deviam ser assentes sobre rochas.

Pouco depois, dava-se o conflito, pois a companhia nenhuma providência tomou para concluir a obra até á fronteira, como aquilo que estava feito se provou que estava mal feito, pois chuvas torrenciais lamberam os aterros e destruíram várias obras de arte.

Em 13 de Maio de 1888,realizou-se na Câmara Municipal da cidade uma sessão, na qual, se verberou violentamente a atuação da Companhia,expedindo-se telegramas á Sociedade de Geografia de Lisboa a pedir providências

Não podendo admitir-se portanto uma situação que já implicava os brios Nacionais, o Governo, por decreto de 25 de Junho de 1889, e satisfazendo o clamor público,rescindiu o contrato com Mac Murdo, mandando proceder imediatamente à avaliação do mencionado caminho de ferro com as obras feitas e material fornecido.

Por força do mesmo decreto o Governo delegou então ao Governador do Distrito de Lourenço Marques, comandante José de Almeida Ávila, e ao diretor de fiscalização dos caminhos de ferro, major Araújo o levarem a efeito prontamente a tomada da linha férrea e de seus pertences.

Forças Policiais Portuguesas ocupando a estação central do Caminho de Ferro de Lourenço Marques em 29 de Junho de 1889,segundo um desenho publicado no “Illustrated London News”, na época

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.VI

Capítulo VI

Viagem pela história na Fortaleza de N.Senhora Padroeira

A Fortaleza Nova feita com dois baluartes, e a porta pequena, feita de pedra vermelha, ainda comporta os canhões e o paredão que segundo a lenda, nesta árvore foi morto o Gov.Dionísio Ribeiro, em 1883.

Em diagonal à velha Casa Amarela é a Fortaleza Nova do Presídio, reconstruída em 1940 sobre o alicerce da primitiva. Que aliás nunca existiu, capaz e completa em qualquer tempo.Entra-se, e é um pequeno museu de sugestivas antiguidades históricas.Artilharia velha na parada, armas e peças no quartel da entrada á direita, epígrafos e pedras de armas arrancadas ás fortalezas do Norte e postas nas paredes do quartel da esquerda, com restos dum arco e pilastras de Sofala (1506), relíquias de arte sacra noutra ala em que se guarda a primitiva imagem de Nossa Senhora da capela do Presídio ( que data de 1819), retratos, bustos, espadas e recordações de grandes figuras históricas noutra sala e na caserna em frente os restos da vida quotidiana de outros tempos.

(1)Restos arqueológicos de Sofala e inscrições arrancadas ás fortalezas do norte,(2) Armas e munições de várias épocas, (3) Retratos de Reis,Bustos de galeria de Moçambique, espadas e condecorações de heróis,cofres das feitorias e a cadeirinha do capitão general do Palácio da Cabeceira Grande

Fora plantas, desenhos e fotografias de sítios e coisas antigas.Conjunto eloquênte, acima de tudo simbólico, a principiar na Fortaleza reconstruída no alicerce primitivo, com imaginação e estilo, e poderosamente sugestiva. A falta mais sensível será,além de não ser verdadeira, não ter agora o flanco sul metido ao rio, com água pelo rodapé da muralha enterrada funda na praia, mas isso é culpa antiga dos aterros do começo do século XX e das grandes obras que já haviam modificado e acrescentado a Fortaleza para a fazer Quartel de Caçadores, e depois Capitania dos Portos, com casas à frente e alcândoradas nos baluartes e nas cortinas. Qualquer semelhança que possa haver entre a fortaleza atual, bonita como um brinquedo, e a realidade histórica, é, pois, pura imaginação.Durantes décadas seguidas o problema máximo da terra foi sempre acabar-se a fortaleza, isto é, transformarem-se em alvenarias as barracas, as palhotas e a estacada, fazer-se ao menos de pedra vermelha barrada a cal, em amarelo ou branco, o segundo baluarte, com pequenas ameias abertas no murinho estreito.

(1) Móveis e adornos antigos,Bandeiras nacionais, um velho riquexó,figurinos militares,primitivas metralhadoras rodadas,(2) A primitiva imagem de N.S.da Conceição e(3) Vista da parada com a artilharia montada

Sede de todos os embrionários serviços públicos da povoação, a fortaleza velha, á medida que perdeu o valor militar por ter passado a defesa para a orla do Presídio, foi-se rodeando de “acrescentos” encostados ás muralhas aproveitadas para paredes, e, transformadas as casernas em quartos com alpendres, ninhadas de crianças a brincar pela extinta parada, arames de roupa estendida ao sol em toda a parte, parecia a irreconhecível fortaleza uma típica Ilha do Porto, a quem nem sequer faltava o ambiente castiço dos marítimos da capitania a gozar a folga, exibindo-se nas preguiçosas cadeiras de lona em calças velhas e camisola interior.A restituição foi ao menos um ato de justiça elementar, com as conjecturas possíveis

(1) O novo Baluarte da Bandeira,(2) Obras de aterro em frente á Fortaleza em 1922 ,(3) ACapitania do Porto na antiga secretaria do quartel do Batalhão de caçadores que foi construida á frente e ao lado da fortaleza primitiva, onde se vê o mastro de gávea e o balão que acionava o tiro de peça á 1 hora da tarde

Aliás, até o fim do século XIX, a engenharia foi sempre, em Lourenço Marques, obra improvisada de amadores.

Joaquim de Araújo, o “Fundador”, que no dia de S.José de 1782 inaugurou o Presídio, arvorou a bandeira das Armas reais num reduto cercado de estacas e caniço, dentro do qual eram as palhotas e barracas de capim do destacamento.Incêndios e diversas lutas marcam este ponto de Lourenço Marques, que no Diário de bordo do navio Austríaco” Residente Pollet” ancorado em 1778 descrevia como “.. Um lugar muito impróprio e incapaz: no princípio do mês de Outubro principiou a deitar um cheiro de vapor de mortos tão terrível que receávamos meter os nossos narizes fora das portas.....”.

(1) Ainda como Capitania dos Portos, mas já com o mastro trocado,sem o balão,(2) Fortaleza muro de 140cm de espessura e (3) Posto Meteorológico montado em espeques na parada da fortaleza, que antecedeu ao Observatório Campos Rodrigues,criado em 1908

Mas os portugueses ficaram, embora fossem morrendo, uns atrás dos outros, governadores, oficiais e soldados.Adaptava-se cada um como podia com os velhos instintos da “Lusotropicalidade”. A verdade é que a “Feitoria da Sociedade dos negociantes da Baía de Lourenço Marques”crescia em DELAGOA – designação internacional que a terra tinha.E foi assim que a cidade principiou, com dezesseis pessoas apenas.Construiu-se o Armazém Real,com a cal conduzida, provavelmente, da barreira de conchas que existe na margem do Rio Matola..Eram negros, além do pedreiro, o carpinteiro que fez as portas assim como o ferreiro de Inhambane que fabricou as ferragens,e o calafate que consertava a lancha do Estado.

A iluminação dos quartéis era com azeite de baleia, fabricado nas praias da baía pelos baleeiros Ingleses e Americanos.Quem tratava dos doentes era um curandeiro Landim, que, por cada soldado que curava recebia de pagamento uma capulana. De vez em quando entrava um navio estrangeiro que trocava qualquer coisa por marfim, pois o barco de viagem só chegava de ano a ano, e ás vezes naufragava.

Assim ia a vida em Lourenço Marques no começo do século XIX, ao principiar o estabelecimento miserável que é hoje a cidade encantadora, fascinante e requintada.

(1) A doca da fortaleza em obras de aterro, vê-se a muralha de pedra vermelha ligada a cal,(2) já em 1893 a ponte de passageiros ainda se gradeando e(3) A Capitania Buildings construida sobre o aterro da Fortaleza.Posteriormente o aterro foi alinhado para se fazer a rua Tavares de Almeida com um passeio .

A fortaleza Nova, é portanto o monumento que se devia ao passado humilde, obscuro e miserável da cidade, e aos mortos que o sofreram

Depois da retirada definitiva dos portugueses de terras de Moçambique, 1975, a fortaleza ainda ssim tem o seu papel preponderante, pois todos os monumentos espalhados pela cidade, foram colocados dentro da mesma, preservando assim a história deste local. Vários objetos alem das estátuas pertencentes a Portugueses também aqui foram perpectuados,não sei se já pelas mãos da Frelimo, ou se ainda pelos portugueses na fase de transição.Tenha sido pela mão de quem seja, só tenho a agradecer por este ato .Em 1995 estive no interior da fortaleza, e pude verificar o excelente estado de conservação e fotografar todas as Estátuas dos Heróis Portugueses que estavam espalhados pela cidade O brasão da Família Mesquitela ,que estava na parede externa da residência que o Presidente Samora nacionalizou e lá viveu até a sua morte,na Matola, dizem estar na Fortaleza, mas como somente não tive acesso a duas das demais dependências da Fortaleza ,não pude confirmar este fato.Tentei de tudo com a pessoa que me permitiu entrar na fortaleza, adentrar nestas duas dependências e por respeito não forcei a entrada. As mesmas se encontravam lacradas com dois cadeados de Aço, enormes, o que me leva a pensar no que lá estaria. Espero ,entretanto, que lá esteja o brasão, pela obra de arte que é.

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.V


Capítulo V

História do Presídio ( 1820 a 1895)

Não foi aliás senão para ver em redor tudo bem, que à mingua dum terraço alto, os primeiros homens do Presídio, os que pela década de 1820, se instalaram numa palhota aqui com uma horta além, vivendo porém do mato, cravaram no chão um mastro e puseram no topo uma gávea, para se ver para dentro do palmar do pântano, pois não havia baluartes onde corre a Avenida da República (1974), e a estacada incompleta estava podre

Havia no areal, fechadas em quintais de caniço, as palhotas dos soldados que viviam com as negras e os moleques, e eram quase todos também negros ou mestiços, as dos funcionários de Goa e dos poucos moradores brancos que viviam do marfim, as dos Mouros e baneanes que eram artífices do estado, ou comissários dos negociantes de Moçambique, e a Feitoria Comercial com suas compridas casas de pedra, meia dúzia de empregados,e o Monopólio.Na barreira em frente ficavam as maxambas e as palhotas dos degredados, plantados agricultores pelo Capitão General Paulo Miguel de Brito em 1829.Era algum decisivo progresso em relação ao tempo em que só havia livres manadas de hipopótamos e o bagançal que em 1777 se fez na praia para se tratarem, ou para morrerem, os doentes dum navio.

A organização social da época, aqui improvisada, era a casa de tipo senhorial dirigida pela caseira, hábil mulher negra ou mulata, e companheira, as Caseiras de Lourenço Marques...Elas foram as esposas cafreais dos brancos ,em que se contavam também os mestiços e canarins, e que se distinguiam os ainda mais brancos, que eram namatangas de Portugal. Só os monhés de caplan,que eram mouros e baneanes, não eram brancos –os brancos da terra - mas tinham também as suas caseiras que se perpetuaram nas negras indianas que existem.

Mapa da região de L.Marques decalcado do mapa original de Owen -1825

Mulatas famosas, descendências mestiças dos fundadores, gente poderosa em Mafumo com família influente em Moçambique, nas veias de algumas havia sangue real de antigas alianças brancas com o mato, e eram por isso a hábil diplomacia mercantil.. Moravam com os maridos e os filhos nas casas do presídio, que eram conjuntos de grandes quintais, pequenas casas maticadas, ou de zinco, servidas por palhotas anexas, que se foram adensando.

Quando em 1874 começaram a chegar a Lourenço Marques as barcas carregadas de aventureiros da Califórnia e da Austrália com destino aos campos do ouro (nome que se dava ao Rand quando ainda não existia Johannesburg), o Presídio encheu-se e povoou-se rapidamente, adquiriu bulício, vida noturna, e começou a esboçar-se a Rua Araújo, para onde se encaminhavam também os Boers que vinham do Transval, em carretas, aos tombos pelo mato afora, passando os rios nos paus, buscar mercadorias

Foi então que o próprio destino se encarregou de substituir a velha urbanização a caniço, por outra mais conforme o progresso, porque um pavoroso incêndio devorou grande parte do Presídio das 3 ás 5 da tarde de 12 de setembro de 1875. Já no ano anterior, à hora da missa ,na ermida de Nossa Senhora, onde hoje é o Standard Bank(1974), e no seu dia, tinham ardido quatro palhotas como um foguete. Mas o fogo de 1875 atingiu proporções devastadoras em poucos minutos, vindo a arder a povoação de norte a sul, entre a atual praça Mac Mahon(1974) e as imediações do atual Savoy(1974).

Cidade vista do começo da Maxaquene, por alturas da actual Escola Correia da Silva (1974) vendo-se o hospital provisório de barracas desmontáveis e a igreja em construção


A linha de defesa, com as portas da cidade, ao fundo do caminhoa futura Avenida Central ( em 1974 Manuel de Arriaga)

Augusto de Castilho, o governador, tomou providências mandando fabricar telhas na Catembe e pedindo ao General , legislação que fizesse remover as palhotas para fora do Presídio, e obrigasse a “substituir por telha, terraço ou ferro zincado , a cobertura de palha das casas de pedra ou de caniço e barro”, que então existiam. O resultado foi a revolução urbanística, precisamente quando o Presídio foi promovido a Vila e se fizeram no último quartel do século XIX, as casas modernas cujos restos encontramos.

Vistas parciais de Lourenço Marques á data da mudança urbanística que sofreu após o grande incêncio

A larga avenida da República, que foi avenida D.Carlos, corre na antiga Rua da Linha, caminho por dentro do muro tosco, abaluartado que nascia na praia do rio, tinha o primeiro baluarte redondo da Praça Mac Mahon, onde assenta o monumento aos mortos da Grande guerra, flectia para leste,do começo da General Machado, até á esquina da Rua Salazar,em diagonal, tendo ao meio do quarteirão o Baluarte de S.Pedro, e na Av República (1974), á esquina da Salazar, o de Santo António.

As antigas portas da cidade, da porta da linha A planta de L.Marques em 1878

Mais adiante, na Avenida Central, entre o velho quiosque Olímpia e o Prédio Avenida, abria-se a porta da Linha, entrada e saída do povo pelo caminho de areia que levava á antiga Estrada do Lindenburgo. Da Central á Aguiar,que era em 1974 a D.Luís, a linha de defesa seguia paralela ás frontarias atuais, para se arredondar no Baluarte de S.João, que ficava todo na Av.da Républica, com a ponta sobre a esquina do prédio Pott. Uns metros adiante, onde hoje é o Café Scala, abria-se outra saída na linha, que prosseguia para flectir, a seguir á antiga Fazenda, (hoje Biblioteca Nacional e Arquivo Histórico) para os terrenos do Almoxarifado, onde ficava o Baluarte do 14, junto à praia do Albasini. Era aí que a Linha acabava, entre o Almoxarifado e a Capitania, para dentro do Presídio, para fora o extra-muros no pântano da Baixa.

Planta e alçado linha da defesa construída em 1867 (fotografia do original no Agrupamernto de Cartografia da Junta de Investigações do Ultramar)

Não se sabe ao certo quando começou a haver em Lourenço Marques uma Linha de Defesa exterior, por esta Avenida da Républica, feitas com estacas de mangal, espetadas na orla da povoação, caídas porém aqui e acolá, cobrindo apenas os acessos mais vulneráveis. Em 1836, o Governador Militar de Moçambique, manda “cuidar da estacada”, reparar o baluarte arruinado, consertar a fonte. No ano seguinte, a Junta Governativa de Moçambique fica ciente das obras da fortaleza.

História de Lourenço Marques (O INÍCIO) Cap.IV


CAPÍTULO IV

M
AC MAHON E OS CONFLITOS COM OS INGLESES (1875 a 1900
)

Varias foram as tentativas por parte dos Ingleses para influenciar e transformar Lourenço Marques em terra Inglesa. Tanto antes quanto depois de 1875, mas a mais grave, como vimos no capítulo anterior foi a motivada pelo comandante William Owen, cuidadosamente arquitetada pela chancelaria Britânica e a que pôs termo a sentença arbitral do Marechal MAC MAHON, proferida a 24 de julho de 1875.

Por se tratar de Nome bem conhecido em Lourenço Marques, este capítulo é todo dedicado a este que foi e sempre será referenciado em nossa cidade.

Como vimos, a pretexto de fazer o levantamento cartográfico da baía em 1822, aproveitou-se Owen para celebrar com régulos alguns acordos de vassalagem à Inglaterra, onde incluía nos terrenos cobiçados os de Tembe e do Maputo e ainda a península da Inhaca e a Ilha dos elefantes. Adquiridos esses, estaria feito o completo estrangulamento do que restasse de português no areal da Maxaquene.

A Pendência arrastou-se por mais de meio século, com peripécias por vezes desagradabilíssimas que qualquer curioso encontra facilmente na importante fonte cronológica dos acontecimentos que é o “Oriente Africano Português”(*1).

O Visconde de PAIVA MANSO, Dr.Levy Maria Jordão, habilíssimo jurisconsulto, defendeu com brilho, através de documentação do passado, a substância legal da posição Portuguesa.

O Governo Inglês retorquiu aduzindo o que se supunha ser suas razões, e por fim, quando ambas as partes acordaram em 1872 ,numa arbitragem Internacional para a pendência, a escolha recaiu no Presidente da república Francesa, ao tempo Alphonse Thiers por sua vez um jurista e historiador distinto.

Seria portanto este, o homem a proferir a sentença que celebraria um homem e uma data, se não fora os acontecimentos políticos que se precipitaram em França e fizeram com que ele deixasse a presidência em Maio de 1873, um ano passado sobre a aceitação da arbitragem.

O Acaso, faria do Marechal Patrice Mac Mahon, descendente de irlandeses, herói da Criméia, antigo governador da Argélia e amigo íntimo de Napoleão III, a figura central de uma data que viria a ser das mais queridas para a cidade de Lourenço Marques.

Mac Mahon era acima de tudo um soldado. Eleito por uma assembléia de Monárquicos que viam nele apenas um degrau na transição para um império, para o qual seria de novo chamado o sobrinho de Napoleão, vencido em Sedan, deixou uma chefia de estado quase sem história.Ele foi o último dos presidentes da III República a tentar um regime presidencialista, tendo tido a audácia de demitir o primeiro-ministro, Duque de Broglie

Por capricho do destino, este homem que passou praticamente sem nada de notável em seu país passou a ser aquele que deixou no coração dos Portugueses uma memória que perdura até aos tempos atuais. Mereceu-a pela integridade com que resolveu um pleito Internacional, não hesitando um momento em dar razão ao mais fraco, sabendo resistir a todas as pressões que foram exercidas para agradar a Inglaterra.

Passando-lhe em 1874 para as mãos, as memórias e as contramemórias, Portuguesas e Inglesas, Mac Mahon recolheu-se em estudo profundo da questão.

Assim em 24 de JULHO de 1875, sentenciou a favor de Portugal, baseando-se nesses sólidos e irrefutáveis argumentos, ao que se segue na integra::

“.. Vistas as notas de S.Exa o SR.Embaixador de Inglaterra e do Ministro de Portugal em Paris, com data de 8 de Fevereiro de 1875;

Havendo-nos a comissão, criada a 10 de Março de 1873, com o fim de estudar os títulos e documentos apresentados, dado parte do resultado do seu exame;

Atendendo a que o litígio, tal como foi determinado pelas memórias apresentadas ao árbitro, e, em último lugar,pelas notas acima citadas, de representantes das duas partes em paris, versa sobre o direito aos seguintes territórios a saber:

1- Os territórios de Tembe (Catembe), limitado ao norte pelo rio de espírito Santo ou “ English River”, e , pelo rio de Lourenço Marques ou Dundas, ao oeste pelos montes Libombo, ao sul e leste pelo rio Maputo, e desde a foz deste rio até á do rio espírito Santo pela praia de Delagoa ou Lourenço Marques;

2- Os territórios de maputo, em que se acham compreendidas a península e a ilha de Inyack ( inhaca), assim como a ilha dos elefantes, e que é limitada ao norte pelas margens da baía, a oeste pelo rio Maputo desde a sua foz até ao paralelo de 26.30 de latitude austral, ao sul por este mesmo paralelo e a leste pelo mar;

Atendendo a que a baía de Delagoa ou Lourenço Marques foi descoberta no século XVI pelos navegadores Portugueses, e que nos séculos XVII e XVIII Portugal ocupou diversos pontos na costa ao norte desta baía e a ilha de Inyak (Inhaca), da qual a pequena ilha dos Elefantes é uma dependência;

Atendendo a que, desde a descoberta, Portugal tem sempre reivindicado os direitos de soberania sobre a totalidade da baía e dos territórios marginais, assim como o direito exclusivo de ali comercializar;

Atendendo, além disso, a que apoiou á mão armada essa reivindicação contra os holandeses, pelo ano de 1732, e contra os Austríacos em 1781;

Atendendo a que os atos com que Portugal apoiou as suas pretensões não provocaram nenhuma reclamação por parte do governo das províncias unidas; que em 1782 essas pretensões foram tacitamente aceites pela Áustria depois de explicações diplomáticas trocadas entre esta potência e Portugal;

Atendendo a que em 1871, a própria Inglaterra não contestou o direito de Portugal, quando celebrou com o governo de Sua Majestade Fidelíssima a convenção de 28 de Lulho para a repressão do tráfico de escravatura; e a que , de fato, o artigo 2 da mesma convenção deve ser interpretado no sentido que designa como fazendo parte das possessões da carta de Portugal a totalidade da baía á qual se aplica indiferentemente uma ou outra das denominações de Delagoa ou de Lourenço Marques;

Atendendo a que em 1822 o governo de Sua majestade Britânica, quando encarregou o capitão Owen de fazer o reconhecimento hidrográfico da baía de Delagoa e dos rios que ali vão desembocar, o recomendou aos bons ofícios do governo Português;

Atendendo a que, se o enfraquecimento acidental da autoridade portugues

nestas paragens, pôde, em 1823, induzir em erro o capitão Owen, e fazê-lo considerar, em boa fé, como realmente independentes da coroa de Portugal, os chefes indígenas dos territórios que hoje são contestados, nem por isso são menos contrários aos direitos de Portugal os actos por ele celebrados com esses chefes;

Atendendo a que quase imediatamente, depois da partida dos navios Ingleses, os chefes indígenas de Tembe( Catembe) e de Maputo, reconheceram de novo a sua dependência a respeito das autoridades portuguesas, atestando eles mesmo por esta forma que não tinham a capacidade de contratar;

Atendendo a que as convenções assinadas pelo capitão Owen e os chefes indígenas de Tembe (Catembe) e de Maputom ainda quando tivessem tido lugar, entre partes aptas para contratar, ficariam hoje sem efeito, estipulando o acto relativo a Tembe ( Catembe) condições essenciais que não tiveram execução e os actos que dizem respeito a Maputo, referindo-se a períodos determinados de tempo, que não foram renovados depois da expiração de tais períodos:

Por estes motivos:

Julgamos e decidimos que as pretensões do governo de Sua majestade Fidelíssima aos territórios de tembe(Catembe) e de maputo, á península de Inyack (Inhaca) a ás ilhas de Inhaca e dos Elefantes, se acham provadas e estabelecidas

Sem dúvida que com esta sentença representou uma grande derrota diplomática para a Inglaterra.Mas a mesma não tinha como contestar nem como obter o porto de Lourenço Marques. Mais tarde ainda haveriam outros problemas com os ingleses que serviria de “cavalo de tróia”, na década de 80 quando se ofereceram para construir a linha férrea de Lourenço Marques a Pretória, que gerou conflitos em Ressano Garcia, onde a Inglaterra ainda tentou ainda anular a sentença de Mac Mahon.

Este facto se deveu em que os empreiteiros não quiseram, concluir a linha e Portugal denunciou a rebeldia e condenou o desacato á soberania Portuguesa.

Portugal em 25 de junho de 1889 rescindiu o contrato e nacionalizou a linha. Assim reacendeu o rastilho para a “inglisação” de Lourenço Marques

Por fim Portugal, os Estados Unidos da América do Norte, e a Inglaterra chegaram a um acordo de submeter em 1891, a um tribunal Suíço o pleito sobre a indeminização a pagar pelo confisco da referida linha.

Previa-se que Portugal, sem dinheiro e sem crédito , tivesse que entrar em empréstimos

O que levou a banca de Londres a se preparar para obter pela subtileza aquilo que perdera pela força do direito de 24 de julho de 1875.

O Conselheiro português, Mariano de Carvalho,conseguiu através do judeus Rothschild, um empréstimo a Portugal , para que esse pagasse as indenimizações fixadas pelo tribunal de Benna em 29 de Março de 1900, malogrando assim mais outra tentativa de “ inglisação” de Lourenço Marques.